Lei ELAN: implicações para os imóveis comerciais e residenciais

A transição energética não é apenas uma tendência, mas uma exigência concreta para o setor imobiliário terciário em França. Desde a aprovação da Lei ÉLAN em 2018 e a entrada em vigor do decreto sobre o setor terciário, os edifícios não residenciais enfrentam uma mudança profunda na forma como devem gerir o seu consumo energético. Essa regulamentação impõe metas ambiciosas de redução de energia a longo prazo, obrigando proprietários e gestores a repensar suas estratégias operacionais e de investimento. Este artigo analisa o alcance dessa transformação, suas implicações práticas e as oportunidades que ela oferece para avançar em direção a um modelo imobiliário mais eficiente, competitivo e sustentável.

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Compreender a lei ÉLAN e o decreto do sector terciário

Uma importante transformação regulamentar para o sector terciário

Sabia que a lei ÉLAN, adoptada em 2018, alterou as regras do jogo para os proprietários e gestores de edifícios terciários? Este texto ambicioso, do qual o artigo 175 é a pedra angular, introduziu o famoso decreto terciário, uma obrigação legal que visa reduzir drasticamente o consumo de energia dos edifícios não residenciais. Esta regulamentação inscreve-se numa abordagem global da transição energética, indispensável para enfrentar os desafios climáticos actuais. Mas não é tudo: também nos obriga a refletir profundamente sobre a forma como gerimos e exploramos os nossos activos imobiliários.


O impacto desta lei vai muito para além da simples poupança de energia. Está a redefinir a própria abordagem do sector imobiliário, incentivando o investimento em soluções inovadoras e sustentáveis. Os actores envolvidos são, portanto, confrontados com um grande desafio: transformar as suas práticas para atingir os objectivos estabelecidos, mantendo-se competitivos no mercado.


Objectivos ambiciosos de neutralidade carbónica até 2050

O decreto do sector terciário não se limita a impor reduções aleatórias de energia. Estabelece marcos precisos: uma redução de 40% até 2030, 50% até 2040 e 60% até 2050 em relação a um ano de referência escolhido entre 2010 e 2019. Estes valores não são arbitrários: visam alinhar o sector terciário com o objetivo nacional de neutralidade carbónica até 2050.


Mas como é que isso pode ser conseguido? Através da combinação de várias estratégias: otimização dos equipamentos, renovação das infra-estruturas, adoção de tecnologias inteligentes... Cada edifício deve tornar-se um modelo de eficiência energética. E esta ambição vai muito além da simples redução de custos: contribui diretamente para a preservação dos recursos naturais e para a limitação do impacto ambiental do sector imobiliário.


Quais são as obrigações específicas para os edifícios comerciais?

Os regulamentos aplicam-se a todos os edifícios comerciais ou partes de edifícios com uma área superior a 1.000 m², quer sejam escritórios, lojas, armazéns ou estabelecimentos abertos ao público. Tanto os proprietários como os inquilinos são responsabilizados: todos devem contribuir para atingir os objectivos estabelecidos.


As obrigações incluem a declaração anual de consumo através da plataforma OPERAT (gerida pela ADEME) e a implementação de um plano de ação para reduzir progressivamente o consumo de energia. O incumprimento pode dar origem a pesadas sanções, incluindo coimas administrativas, publicação dos infractores ("name and shame") e até depreciação do valor do imóvel em causa.


Analisar os requisitos de desempenho energético

Limiares de desempenho energético que devem ser respeitados

Para cumprir o decreto do sector terciário, cada edifício em causa deve atingir níveis de desempenho energético estritamente definidos. Estes limiares são calculados em função de um ano de referência, escolhido entre 2010 e 2019, e servem de base para medir os progressos efectuados. O objetivo é claro: reduzir progressivamente o consumo de energia por etapas (40%, 50% e 60%).


No entanto, estes limiares não se aplicam uniformemente a todos os edifícios. Variam em função da atividade exercida no edifício, uma vez que um armazém logístico não tem obviamente as mesmas necessidades energéticas que um centro comercial ou um hospital. Esta abordagem diferenciada assegura uma adaptação realista às especificidades de cada sector, mantendo simultaneamente uma pressão constante para melhorar a eficiência energética global.


Métodos de avaliação: indicadores precisos para medir o consumo

Como é que se sabe se um edifício está a cumprir os seus objectivos? A resposta está nos indicadores-chave de desempenho energético, que permitem avaliar com exatidão o consumo de energia. Estes indicadores incluem o consumo de energia primária (PEC), que mede a energia necessária para satisfazer as necessidades de aquecimento, arrefecimento, iluminação e outras necessidades específicas do edifício.


Para garantir a transparência e a fiabilidade dos dados, os gestores dos edifícios são obrigados a comunicar anualmente os seus consumos de energia à plataforma OPERAT. Esta base de dados nacional centraliza toda a informação necessária para acompanhar a evolução do desempenho energético e identificar os edifícios em risco de incumprimento. A avaliação regular é, assim, essencial para ajustar estratégias e evitar atrasos no cumprimento dos objectivos estabelecidos pelo decreto.


Os principais passos para uma redução de energia bem sucedida

A redução do consumo de energia de um edifício comercial a longo prazo requer uma abordagem metódica e em várias fases. Tudo começa com uma auditoria energética aprofundada, concebida para identificar as principais fontes de desperdício e avaliar o potencial de melhoria. Esta auditoria é a base sobre a qual se constrói qualquer estratégia de redução de energia.


Em seguida, é necessário elaborar um plano de ação pormenorizado, incluindo medidas específicas como a instalação de sistemas mais eficientes (bombas de calor, iluminação LED), a melhoria do isolamento térmico ou a integração de energias renováveis. Cada etapa deve ser rigorosamente implementada, seguida de uma análise dos resultados obtidos, para que os esforços possam ser ajustados, se necessário. Por fim, o envolvimento dos ocupantes é crucial: a sensibilização para as boas práticas pode fazer uma diferença significativa na redução global do consumo.


Explorar soluções de adaptação e de renovação

Isolamento e renovação, os pilares da eficiência energética

Sabia que cerca de 30% das perdas de energia de um edifício se devem a um mau isolamento? Para cumprir os requisitos do decreto do sector terciário, a melhoria do isolamento térmico é uma prioridade absoluta. Isto aplica-se a paredes, telhados e pavimentos. Uma envolvente eficiente do edifício não só reduz o consumo de aquecimento e arrefecimento, como também melhora o conforto dos ocupantes.


A renovação energética não é apenas uma questão de isolamento. Inclui também a substituição de equipamento obsoleto por tecnologias modernas e eficientes. Por exemplo, optar por sistemas de ventilação de fluxo duplo ou caldeiras de alta eficiência pode gerar poupanças substanciais e reduzir as emissões de gases com efeito de estufa. Em suma, cada intervenção deve ser encarada como um investimento estratégico para adequar o edifício aos objectivos regulamentares.


Investimentos necessários: entre custos e rendibilidade

A conformidade com o decreto do sector terciário representa um desafio financeiro, mas também oferece oportunidades económicas a longo prazo. O investimento inicial, quer se trate de trabalhos de isolamento, de atualização dos sistemas ou da integração de energias renováveis, pode parecer substancial. No entanto, esta despesa deve ser encarada como uma alavanca para aumentar o valor patrimonial do imóvel e reduzir os custos de exploração a longo prazo.


Também é possível beneficiar de regimes de ajuda financeira para aliviar a fatura. Subsídios como os oferecidos pelo Fonds Chaleur (Fundo de Calor) ou certificados de economia de energia (CEE) podem cobrir parte dos custos incorridos. Além disso, alguns bancos propõem empréstimos verdes com juros baixos para apoiar projectos de renovação energética. Assim, planear cuidadosamente os seus investimentos pode transformar uma restrição regulamentar numa verdadeira oportunidade económica.


Ferramentas e plataformas para apoiar a transição

Estão disponíveis várias ferramentas digitais e plataformas especializadas para facilitar a implementação das acções necessárias para cumprir o decreto do sector terciário. A plataforma OPERAT, gerida pela ADEME, desempenha um papel central: não só pode declarar o seu consumo anual de energia, como também pode monitorizar as tendências de desempenho e identificar quaisquer lacunas que precisem de ser colmatadas.


Além disso, certas soluções tecnológicas, como os softwares de gestão da energia (Energy Management Systems), oferecem uma maior visibilidade da utilização da energia do edifício. Estas ferramentas permitem, nomeadamente, detetar rapidamente as anomalias ou os desvios e ajustar as estratégias em tempo real. Por fim, o recurso ao apoio profissional de consultores especializados pode facilitar muito o cumprimento das normas, garantindo a máxima otimização dos recursos investidos.


Avaliar o impacto no sector e o futuro do decreto relativo ao sector terciário

Benefícios ambientais e económicos tangíveis

A aplicação do decreto relativo ao sector terciário é mais do que uma obrigação regulamentar: representa uma oportunidade única para gerar benefícios significativos, tanto para o ambiente como para os agentes económicos. Ao reduzir o consumo de energia, os edifícios comerciais contribuem diretamente para a redução das emissões de gases com efeito de estufa, um fator crucial na luta contra o aquecimento global.


De um ponto de vista económico, a melhoria do desempenho energético de um edifício reduz consideravelmente os custos de funcionamento. Menos energia consumida significa menos despesas com aquecimento, iluminação e ar condicionado. Além disso, um edifício em conformidade com as normas em vigor aumenta o seu valor patrimonial, o que constitui uma vantagem importante para os proprietários que pretendem vender ou arrendar a sua propriedade. A longo prazo, estes benefícios mais do que compensam o investimento inicial necessário para a adaptação do edifício às normas.


Os desafios que se colocam aos actores do sector terciário

Apesar destas vantagens inegáveis, o caminho para a conformidade não está isento de armadilhas. Os proprietários e gestores de edifícios comerciais enfrentam uma série de desafios importantes. Em primeiro lugar, o custo inicial das obras pode constituir um grande obstáculo, nomeadamente para as pequenas estruturas com recursos limitados. Mesmo com ajuda financeira disponível, angariar os fundos necessários continua a ser um desafio logístico e estratégico.

Em segundo lugar, a complexidade técnica dos projectos de renovação energética pode desencorajar alguns intervenientes. A identificação das prioridades de ação, a escolha das tecnologias adequadas e a coordenação dos trabalhos exigem conhecimentos especializados e um planeamento rigoroso. Por último, existe também a resistência à mudança: convencer os inquilinos ou ocupantes a adotar novos hábitos energéticos exige tempo e esforços constantes de sensibilização.


Um futuro marcado por desenvolvimentos regulamentares e tecnológicos

O decreto relativo ao sector terciário está longe de estar gravado na pedra: faz parte de uma dinâmica em evolução em que a regulamentação e a inovação tecnológica andam de mãos dadas. À medida que os objectivos nacionais para a transição energética se tornam mais claros, é provável que sejam feitos ajustamentos aos limiares e aos métodos de avaliação. Os intervenientes devem, por conseguinte, manter-se vigilantes e flexíveis, a fim de antecipar estas mudanças e adaptar-se rapidamente.

Além disso, o futuro será marcado pelo aparecimento contínuo de soluções tecnológicas inovadoras. Ferramentas como a inteligência artificial e a Internet das coisas (IoT) oferecem já perspectivas promissoras para otimizar ainda mais a gestão energética dos edifícios. Estes avanços permitirão não só responder às exigências actuais, mas também preparar o sector comercial para os futuros desafios energéticos com maior eficácia.